
Disse Felipe Mello, numa das entrevistas após o jogo, que era “homem” para pedir desculpas pelo gesto que cometeu no gramado. Uma bobagem. A declaração seria apenas mais um ato de destempero emocional ou de falta de alcance cerebral? O gesto fora uma “pisada” no jogador adversário, quando o Brasil perdia por 2 a 1, combalido e dominado num jogo eliminatório de Copa do Mundo. Alguém precisa explicar ao Felipe Mello o que é ser homem e o que é ser mau profissional, irresponsável e inconseqüente. Ser homem, na risível fala do volante titular brasileiro, foi um dos conceitos que o Brasil confundiu nessa Copa do Mundo. Houve outros.
Júlio César, também após o jogo, disse que futebol “é onze contra onze”. Não é. Não foi. Numa Copa do Mundo, no Campeonato Brasileiro ou em qualquer disputa de esporte de grupo, título é resultado, sobretudo, de elenco. Sem Elano e Ramires, havia, no banco, opções de Josué, Kleberson e Grafite, entre outros que sequer atuaram. Jogadores que mudam time. Mas não mudam jogo. Quando o “melhor goleiro do mundo” errou a mão na bola no primeiro gol da Holanda, aconteceu o um a zero avassalador. Desnecessariamente catastrófico àquela altura do jogo.
Dunga repetiu, durante a Copa, que o Brasil tinha dificuldades para jogar contra times fechados. Talvez para justificar a vitória preocupante contra a Coréia do Norte, deu a entender que difícil é enfrentar time fraco, retrancado, que, dominado pelo medo de tomar uma saraivada de gols da seleção brasileira, joga atrás da linha da bola. Considerando as vitórias contra Coréia do Norte, Costa do Marfim e Chile como naturais, quase inevitáveis, o Brasil, quando encarou seleções de qualidade melhor, empatou ou perdeu. Portugal e Holanda.
Dunga e os jogadores disseram que o Brasil era um time onde predominava o futebol coletivo. A expressão que melhor ilustrou uma ação coletiva da seleção na Copa, além da clausura da concentração, foi o descontrole emocional após o primeiro gol da Holanda. Houve um desespero grupal! Futebol é grupo sim. É grupo também. Mas o futebol brasileiro precisa fazer prevalecer o talento individual. E só isso pode não ser mais suficiente para vencer uma Copa do Mundo.
A derrota demonstrou que treinador não deve ser apenas o profissional que motiva e substitui jogadores. Há de ser mais. Quando o Brasil perdia a cabeça, o jogo e a Copa, Dunga trocou Luis Fabiano por Nilmar. Era hora do tudo ou nada. Cabia um terceiro atacante. Perder de pouco ou de muito é igual em jogo eliminatório. A melhor alteração de Dunga foi a entrada de Ramires contra o Chile. Foi motivada pela contusão de Elano e de Felipe Mello. Para trocar jogadores, basta consultar a lista de nomes disponíveis para cada posição. Mudar o atleta, sem mudar a forma de o time jogar, não resolve.
Equilíbrio foi outro conceito mal utilizado e mais valorizado do que técnica. Dunga e Júlio César defenderam a seleção equilibrada, composta por defesa, meio campo e ataque atuando seguros. Equilíbrio burocrático e sem graça. O Brasil foi o país que mais venceu Copas do Mundo porque possui, no jogador, um elemento de desequilíbrio. Chama-se: talento individual. Desequilíbrio esse, claro, a nosso favor. Talento foi algo que esse grupo tinha pouco. Ainda menos se os planejadores considerassem que Kaká e Robinho estariam sujeitos a lesões e suspensões, o que, de fato, aconteceu, com os dois, no jogo contra Portugal. E o zero a zero foi o placar do pior jogo do Brasil na Copa.
O Brasil caiu quando foi realmente testado contra o merecedor time da Holanda. Fracassou. Mas confidenciou-me uma inteligente e sensível torcedora, pouco depois do fim do jogo, que foi uma derrota menos triste do que as de outras Copas, como a de 82 e até a de 98. Ela tem razão.
Talvez porque tenha ficado a sensação de que o Brasil perdeu a Copa, mas o futebol - aquele de jogadores, não de guerreiros - o futebol brasileiro ganhou. Chance de renascer.